PSICÓLOGO
ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO C.R.P.31341/5 -TERAPIA DE CASAL E INDIVIDUAL-
TATUAPÉ- SÃO PAULO -SÃO PAULO-RUA ENGENHEIRO ANDRADE JÚNIOR, 154
FONES: 26921958/ 93883296
SEPARAÇÃO DO CASAL(PSICÓLOGO ORIENTA COMO LIDAR COM OS FILHOS E SUPERAR O TRAUMA).
A primeira coisa indispensável no tormento e drama
de uma separação é o percebimento claro e profundo de que ambos perderam o
referencial afetivo, se evitando culpar o outro pelo abandono ou separação. O
ódio ou dor profunda de uma separação é mitigado pela consciência de que ambos
foram quase que totalmente incapazes de efetivarem as expectativas do outro, ou
pelo menos tentar chegar a um acordo parcial sobre as mesmas. A separação é
encarada via de regra como uma derrota para alguns, e liberdade para outros.
Ambos conceitos são parciais se refletirmos apuradamente sobre a questão. A
separação nada mais é do que um verdadeiro turbilhão de todo tipo de emoção
conflitiva, positiva ou negativa, assolando ou testando o emocional do
indivíduo até o mais puro limite da tolerância. Angústia extrema, ódio, raiva,
vingança, inveja, inferioridade, culpa, arrependimento, alívio, medo,
esperança, saudades, são alguns exemplos do que provêm da contenda originada. O
desespero que se instala perante a situação muitas vezes não é prova de nenhuma
saudade ou amor perdido, mas a certeza da incapacidade para estabelecer um novo
relacionamento. Fala-se tanto na questão dos filhos e seu sofrimento. Sem
dúvida alguma são inegáveis a perda e dor para a criança da presença contínua
dos pais, mas muitos esquecem de lhes comunicarem o óbvio: que a relação não
pertenceu jamais a eles, mas tão somente que os dois juntos remetem à sua
origem biológica e afetiva.
Haveria uma diminuição radical de litígios se ambos
se conscientizassem que no momento da separação ainda devem várias coisas ao
outro; tanto material como emocionalmente. O leitor poderia neste ponto indagar
sobre tal conceito ingênuo no furor da batalha, alegando o fato de como
corroborar um compromisso fiel no final de algo que talvez jamais existiu?
Porém, caso isto não ocorra, ambos serão lançados no mais puro “limbo” afetivo
e emocional, com total comprometimento futuro dessas esferas. Embora haja
sofrimento e conflito o tempo todo, a separação consensual é a última chance
para que possamos doar algo de positivo para quem esteve ao nosso lado, caso
contrário, o resultado será a perda total no mais amplo sentido. Neste momento
tão difícil muitos não conseguem elaborar que a questão não passa apenas pela
raiva ou abandono em relação a quem está ao lado, mas que a própria pessoa será
totalmente afetada pelo acontecimento. A raiva deste modo é a primeira defesa
contra a solidão e a sensação de rejeição, vindo seqüencialmente o ódio. A
diferença entre raiva e ódio é que a primeira é puramente uma defesa psíquica
contra uma frustração ou mágoa, tendo um limite de durabilidade; o ódio se
torna um processo de longo prazo, sendo um cultivo duradouro da inconformidade.
Embora muitos pensem que este movimento produza sofrimento constante, o fato é
que se torna uma espécie de rotina ou distração para alguém que não sabe como
resolver seu dilema afetivo. O problema final desse ódio todo é que será
lançado justamente para alguém que desejando ou não, nos lembraremos pelo resto
de nossas vidas, ou seja, é uma verdadeira armadilha para a saúde psíquica.
A posse, apego e resistência em não aceitar o
desfecho por parte de um dos cônjuges, não significa apenas que está preso ou
enfraquecido nessa relação, mas que sempre soube da sua falha e do outro no dia
a dia emocional; não desejar neste caso a separação é evitar o tornar público
sua dificuldade histórica da troca. Neste ponto do estudo cabe a famosa pergunta de que
o caminho para superar uma relação desastrosa ou esquecer alguém é justamente
conhecer outra pessoa? Apenas para alguns isto será possível, dependendo da
maturidade e estado psicológico. Para pessoas que detém uma auto-estima
positiva, não será difícil o recomeço, embora não deixe de ser uma tarefa
espinhosa. Os que não conseguem superar facilmente tal etapa estão reféns de
todo o trauma do ocorrido? Parcialmente, diria através de minha experiência
clínica. A questão não é apenas a seqüela de algo que deu errado, mas um fluxo
mental que impede novos contatos, gerando tédio e afastamento perante os
outros. Como proteção do ego ou até espírito revanchista, a pessoa que se
julgou injustiçada em sua relação pretérita tem a tendência de atrair um novo
relacionamento onde detém totalmente o controle ou poder, evitando reviver a
situação de inferioridade que dilacerou sua alma. O resultado é o tédio
descrito e sensação de embotamento afetivo e sexual, construindo uma busca
quase que infinita de uma imagem idealizada, que não o faça sofrer
novamente.
Sem dúvida alguma não podemos atribuir somente ao
psiquismo uma obstrução ou dificuldade para se obter a satisfação ou felicidade
emocional. Todos sabemos da extrema dificuldade em nossos dias de se encontrar
alguém realmente especial. A solidão caminha lado a lado com nossa fome
afetiva, carência emocional e vontade de estar com alguém. Isto se torna
uma contradição veemente; pessoas que estão ainda num relacionamento que se
iniciou natimorto, e outras com expectativas de perfeição que jamais poderão se
concretizar. Todos os referenciais econômicos de competição, sucesso e posse se
alastraram por completo na esfera psíquica, como tenho pontuado em todos os
meus trabalhos. A estrutura mental não é algo isolado ou indissolúvel do contexto
social como a psicanálise de FREUD atestou com tanta ênfase; mas exatamente o
contrário, um espelho mais do que fiel da estrutura vigente.
O núcleo do processo de separação é a angustiante
sensação de estarmos completamente sozinhos, sendo que quase nada é mais
difícil para um ser humano. Mas se tal fato é verdade, como explicarmos a
verdadeira horda de solidão e timidez de nossa era? Será apenas para não sofrer
novamente, conforme sublinhado anteriormente? Ninguém teme algo bom ou
positivo, apenas quando se expõe o sentimento negativo, que pode ser aflorado
no decorrer do relacionamento; por mais medíocre que seja este último, sempre
irá nos revelar nosso verdadeiro e profundo caráter, entrando em choque direto
com a educação para a dissimulação que recebemos nas mais diferentes etapas de
nosso desenvolvimento. Todos frisam o tempo todo a frase: “quero ser feliz”;
para a consecução de tal meta não poderá haver jamais o medo de si próprio ou
de sua essência. Todos carregam um potencial para o prazer, assim como para uma
vontade de destruir; felicidade é um misto de disciplina e atenção com o outro
e nós mesmos. A hora exata da separação quase que pode ser calculada
matematicamente; quando há o impedimento de um ou ambos de se doar o melhor e
tentação para quase sempre se vivenciar o pior; quando a sensibilidade de um
vira um instrumento de tortura para um outro insensível.
Retomando a problemática sobre os filhos, a questão
não é tanto o dilema da perda dos pais, mas a intuição por parte da criança
dessa troca do pior entre ambos. A dor para a criança passa a ser a reprodução
do ódio dos pais em comportamentos totalmente não adaptados, seja na escola,
amigos e família. A criança não é totalmente egoísta como muitos pensam,
elas desejam realmente a satisfação afetiva dos pais, mesmo que não estejam
mais juntos; sua única condição é que haja um espaço onde também possa
participar dessa felicidade, pois o que mais teme é que com a separação, não
tenha mais um canal para viver a satisfação com os adultos, se tornando
excluída desse universo. Crianças traumatizadas pela separação necessitam
constantemente atuar ou “brincar” com o fracasso emocional dos pais que
testemunharam, usando da famosa chantagem emocional para obter atenção
redobrada. Essa chantagem oriunda ou não de um genitor frustrado ou
inconformado deve quase que ser ignorada. Sempre por mais difícil que pareça
deve ser pontuado para a criança que se a mesma colocar o adulto na posição de
escolher entre ela e seu novo relacionamento, este último terá absoluta
prioridade, mesmo que não venha a dar certo no futuro. O adulto precisa
explicar que tanto para o mesmo e a criança não seria saudável o engessamento e
escravidão perante um único papel de pai. O ideal e até admirável é que tal
função não fique concentrada apenas no filho, mas que expanda seu horizonte,
buscando a satisfação emocional, sexual e prazer próprio.
A convivência forçada de um casal que não troca há
muito tempo, apenas para manter uma pseudo-estrutura familiar é totalmente
nociva para a criança, como sempre se salientou. O mais importante é que a
mesma mantenha uma lembrança viva de pais que em algum momento conseguiram ter
prazer e se divertiram no bom sentido, namorando, indo a festas e outras
coisas, independentemente se a companhia é ou não o outro genitor. A criança
sempre se revoltará e sentirá um terrível trauma ou conflito contra um adulto
indolente na arte da comemoração e prazer, aliás, este fato tem sido
sistematicamente negligenciado. O sacrifício só é válido na renúncia de algo
puramente individual ou hedonista, nunca quando uma ação implica na obstrução
da satisfação e felicidade de outro ser humano.
Outra questão que atormenta um casal no processo da
separação é sobre se num futuro relacionamento irão reproduzir o mesmo desgaste
ou fracasso. Apenas se estiverem ainda reféns do ódio ou mágoa como salientei
anteriormente. O grande problema em qualquer relacionamento é a falta de
profundidade do mesmo, pois se teme desvendar as emoções negativas. É muito
simples falarmos de vingança ou ódio perante alguém que nos causou dano
psíquico, porém, ninguém toca no fato de que isto também ocorre quando há uma
plena dedicação para com o outro ou passividade. Quantos relatos me foram passados acerca do tédio de um dos
parceiros pelo fato do outro satisfazer todas as suas vontades e não ter uma
opinião ou conduta mais impositiva. Poderíamos navegar no senso comum dizendo
da constante insatisfação do ser humano, mas o fato é o total despreparo
perante emoções ou situações que geram o conflito. A tendência ao ilusionismo
que a paixão gera, cega por completo a capacidade crítica perante a
continuidade saudável da relação. Infelizmente quase ninguém quer a reflexão,
apenas preencher seu apetite por sexo ou companhia, não pensando nos problemas
futuros. Como exemplo cito a questão do ciúme, elemento corrosivo de qualquer
amizade ou relação. A análise profunda do mesmo diz da transposição de todos os
elementos de insegurança econômica e exclusão social que tememos diariamente
para a esfera emocional; o sentimento passa por toda a impregnação das regras
econômicas.
A separação deve ser encarada profundamente com
humildade e um senso de limitação sobre o amor que doamos, nos conscientizando
sobre um narcisismo falso desde tempos remotos que dizia que alguém se
agregaria permanentemente à nossa pessoa por sermos tão especiais. Buscamos
cegamente um amor ou dedicação plena do outro, nos esquecendo de que o mesmo é
sempre o mais fiel espelho de nossas impurezas. O fato de muitos só descobrirem
o valor da relação após um dos parceiros comunicar o desejo de se separar é
como todos sabem puro apego e possessividade. Mas a raiz de tal desespero é a
tentativa da pessoa em salvar uma espécie de “honra afetiva”; qualquer um sabe
de que em determinada situação uma volta logo produziria desgaste ou desânimo,
se tornando uma balança que pende inexoravelmente para o lado negativo da
relação; a posse ou apego nada mais diz do que uma brutal somatória de orgulho
internalizado na pessoa.
Outra razão que produz inevitavelmente a separação é
o constante desprezo, insensibilidade e conduta agressiva sem necessariamente
ocorrer à violência, de um dos parceiros. O que temos de compreender é que
nestes casos a pessoa envolta em dito comportamento está totalmente impossibilitada
para a troca ou proporcionar prazer para seu par. Não priorizar o ser que uma
vez se jurou amar, significa que o lado sombrio se apoderou da relação, e a
partir disto à provocação é a tônica, pois o objetivo no plano afetivo se
tornou apenas afetar o outro. Enfim, peço desculpas por estar sendo repetitivo,
mas o fato é que na atualidade um relacionamento se parece totalmente com a
injustiça social vigente, carência, exclusão, abandono, miséria e privação.
Todos os elementos que assistimos diariamente no universo sociológico povoam
nosso psiquismo; não há mais uma fronteira delineada entre o público e privado
quando o assunto é conflito, frustração e perda; talvez por tal fato é que as
pessoas se agarram a cada dia num materialismo supérfluo, tentando provarem a
si mesmas que possuem algo exclusivo, pois sabem que sua individualidade há
muito foi ameaçada e danificada. A terrível experiência da separação não tem
como espólio apenas o drama da solidão, mas a incerteza e incapacidade de
reflexão profunda sobre as falhas individuais de ambos os parceiros. O papel
do psicólogo é crucial nesta etapa, até para que seja um primeiro treino para
ambos exporem sua individualidade perante um terceiro, já que o farão perante
um tribunal muitas vezes completamente insensível em relação ao sofrimento do
casal. Aliás, tenho constatado diversas queixas de pacientes sobre tal
aspecto, e lhes digo que o dia “macabro” da oficialização da separação
representa a somatória de toda insensibilidade de anos despejada naquele momento.
Para muitos apenas nessa hora é quando irá se revelar à gravidade da situação;
e como todos sabem nosso sistema apenas está interessado em bens e coisas do
gênero, nunca em como as pessoas irão enfrentar tal derrocada; então o dia da
separação é transformado em velório para ambos, independentemente se queriam ou
não o afastamento. Esse sadismo institucional já foi objeto de diversos estudos
e críticas, mas infelizmente as coisas continuam da mesma forma.
Resta apenas para ambos tentarem investir numa maturidade que proporcione um fim pacífico a algo que foi extremamente conturbado, não pelos filhos em si, mas para preservarem pelo menos uma futura amizade, ainda que seja tênue, pois do contrário se criou o “mausoléu” da desgraça afetiva para ambos, com endereço sempre certo em nossa mente coração e memória. Não seria tolo de achar que tal tarefa é simples, pois a experiência prova exatamente o contrário; o quanto difícil é a continuidade de algo que se desgastou afetiva e sexualmente. Mas não estaria na hora de uma pequena evolução no tocante ao mais fácil sentimento humano que é o ódio?
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PRODUZIDO TOTALMENTE PELA EXPERIÊNCIA CLÍNICA DO AUTOR.
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